<$BlogRSDURL$>

sábado, novembro 22, 2003

Celebração das Cidades 



O Neurose23 decidiu participar no concurso promovido pela UIA,intitulado "Celebração das Cidades".

Das cinco cidades a concurso optou-se por Aveiro como objecto de estudo.

Sendo a premissa do concurso a "acupunctura urbana", pretendem-se intervenções em áreas determinadas, a custos mínimos, com um impacto considerável na melhoria da vida da cidade, em qualquer uma das áreas propostas no programa.

O objectivo é ser incisivo e adoptar medidas de implantação imediata.


Merry Christmas 

O crescimento da cidade do Porto levou a um reajuste da nossa concepção de área urbana. Confundem-se ou redefinem-se os conceitos de centro e periferia. Pertencemos assim àquele tipo emergente de cidade que testemunha a justaposição aleatória de elementos díspares. Um destes elementos é o NorteShopping, na rotunda AEP.

A que tipo de lógica de crescimento estará subjacente a construção deste centro comercial?

Constatamos que está numa área de condição periférica, numa zona em que a construção é menos comprometida com a envolvente próxima. Assim é maior a facilidade na ocupação e uso do terreno, apesar de polémica. O sítio está também associado ao nó rodoviário que é a Rotunda AEP. Aqui cruzam-se a circunvalação, o acesso à IC1, a Via Rápida, e a Av. Dr. Antunes Guimarães.

Concluimos que a lógica deste negócio é a do automobilista-consumidor. Automobilista porque não se favorece o peão, mas a ligação pela estrada, aumentando assim o número possível de visitantes, consumidor porque não se projecta para um cidadão anónimo sem qualquer especificidade, mas para alguém que tem dinheiro.

A estratégia publicitária justifica a linguagem arquitectónica do pósmodernismo rasca e do historicismo kitsh presente não só no exterior como no interior.

Do ponto de vista espacial, o interior é desenhado de forma a definir um percurso circular promovendo um passeio errático que “obriga” à passagem involuntária por um máximo número de lojas. Qual a qualidade espacial daqueles corredores (feitos à imagem das galerias italianas), e da “praça da alimentação”, que de praça tem muito pouco estando impregnada de cheiro a fritos? O que é um silo-auto como “espaço cultural” dentro de tal estrutura?

Mas estas eram as premissas do projecto, o que torna mais evidente a atrocidade que é aquele empreendimento. Porque promove o auto esquecimento e o consumismo, porque se separa da cidade num edifício autista cuja relação com o exterior é a rampa de acesso ao estacionamento.

Com que legitimidade se invade o espaço de circulação público com o acesso em rampa da Rotunda/Circunvalação numa lógica de investimento privado? Na oposição público/privado esta ultrapassa a fronteira do espaço que é dos outros, que podem ter feito a escolha democrática de não ir ao centro comercial, mas têm de conviver com tal facto urbano.

No entanto, a verdade é que todo este empreendimento, juntamente com o hospital e a ligação ao Metro, funcionam como motor de desenvolvimento, gerando a condição de centralidade que se espera do El Corte Inglés na margem sul.

Como analisar a questão do desenho e planeamento urbano?

O centro da cidade, como imagem estática pitoresca (kitsh) do passado, fará ainda algum sentido?
Talvez seja verdade que esta imagem contribui para um sentido de identidade local, mas se não houver condições de habitabilidade, não seria necessária alguma alteração?

Será que o nosso papel enquanto arquitectos, desenhadores desta cidade, se deverá restringir à limpeza de fachadas e redesenho de pavimentos?

Quem criou a lógica do automobilista consumidor, o economista/empresário que com isso lucra, ou o cidadão que se deixa levar por ela?

Se é esta a massa de gente que habita a nossa cidade, não deverá ser para ela que nós construímos?

Não teremos também um papel crítico ou formado para desempenhar como arquitectos?

Ou será demasiado esperançoso dar tanta responsabilidade à arquitectura?

Não sabemos.

(texto de Juliana Gonçalves,Manuela Lomba e Miguel Lomba, publicado no JUP de Novembro)

This page is powered by Blogger. Isn't yours?